1 de dezembro de 2014

João "o bebé"

No meu trabalho, de vez em quando, vai lá passar umas horas um bebé... que para mim é "o bebé."

Não sei qual é a experiência das outras mulheres que não conseguem ter filhos mas eu, apartir de uma certa altura comecei a evitar pegar em bebés. Até aí ainda ficava contente quando via um bebé, ainda ficava contente quando uma amiga engravidava, ainda achava fofinho fotos de barriguinhas grávidas no facebook, ainda fazia gostos em fotos das ecografias porque ainda estava na fase "vai ser tão lindo quando tiver o meu bebé".

Depois que entrei na fase "irritada com o mundo por não me dar um filho" evito até chegar-me perto dos bebés ou arranjo desculpas para não ter que pagar neles... ou porque estou a cozinhar, e assim enquanto as minhas amigas brincam na sala com a pequenina Isabel, eu estou muito ocupada ou porque estou com muita pressa e assim espreito só num instante para o carrinho de bebé daquela conhecida que encontrei na rua ou ainda porque "Ai o Marco tem muito mais jeito com bebés." e passo o bebé dos nossos amigos para o colo do meu marido.

O pequenino João, de apenas 5 mesinhos, começou a ir passar umas horas conosco na loja porque a minha patroa, que não foi mãe por opção, tem um instinto maternal gigante e sempre que vê um bebé já não o larga mais.

"Oh Lurdes!! Venha cá ver estes pézinhos"

Umas vezes eu fingia que estava ocupada, outras ia mas ficava sempre a uma distância de segurança, tendo a perfeita noção que ela estava à espera que eu pegasse no João. Como faria qualquer mulher que visse aquela carinha. 

Já eu, só olhava para o João e sentia um vazio... um aperto, de mão cerrada, no coração. Sorria forçadamente e rapidamente me escapulia dali.

A minha patroa é maternal com bebés e com toda a gente que gosta também. Ou não fosse ela do signo Leão... Comigo não é diferente. Ela se puder estar sempre a alimentar-me é o que ela faz, ela se eu tiver frio traz-me um casaco, um cachecol, umas luvas e ainda o aquecedor, ela se eu tiver gases traz-me logo o aeroOM, ela que até sabe da minha dificuladade em engravidar queria que eu pegasse no João porque achava que isso me faria bem.

E um dia eu descobri que ela tinha razão.

O João começou a ficar lá na loja tantas vezes que a certa altura tornou-se impossível não lhe pegar. Ou porque a minha patroa tinha que atender um cliente, fazer uma chamada telefónica, ir à casa de banho ou qualquer outra desculpa que ela inventasse... e foi então que o João se tornou "o bebé".

O sorriso de boca aberta do João quando me vê ao longe, o enroscar da cabeçinha careca no meu peito quando tem soninho, o cheirinho a bebé quando encosto a minha cara ao pescocinho dele, a força das suas mãozinhas a agarrar a minha mão e depois a primeira vez que o adormeci ao colo... o João estava a lutar contra o sono há mais de uma hora mas o narizinho vermelho e os olhinhos papudos era um sinal notório de soninho e foi então que a minha patroa me passou o Joãozinho. Até ali até duvidava do meu jeito para acalmar um bebé mas lembrei-me que cantar me acalmava e que isso talvez também acalmasse o João. Cantei baixinho a música que canto sempre que estou triste "...when the dog bits, when the bee stings, when I`m feeling sad I simple remember my favourite things and then I dont feel so bad...". Sei que cantei a música vezes sem conta mas quando dei por ela já o João ressonava baixinho e dormia profundamente. Esse foi o preciso momento em que o João se tornou "o bebé".

O bebé que quando pego me enche de um calor tão carinhoso e de uma paz imensa. Uma sensação que nunca tinha sentido antes mas que me faz sentir tão bem, tão especial tão brilhante, tão magnífica.

Não, não me passa pela cabeça roubar o Joãozinho... calma!! Não o sinto como se fosse um filho sinto-o como uma cendalhazinha de esperança, um "talvez, talvez um dia..."

Continuo a evitar os outros bebés mas o João não. Anseio por aquela pele lisinha, aquela gargalhada arreganhada, aquele cheirinho, o momento em que lhe dá o soninho, para aí sermos só eu ele e a nossa música, aquele bocadinho em que sou a "ama" e amo aquele menino com todas as minhas forças.

Obrigada João por me fazeres acreditar, ainda.

 


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